Se você acredita que heróis não são os seres poderosos e perfeitos, que nunca tem medo e sempre sabem o que fazer, mas sim personagens que, mesmo com as dificuldades da vida, conseguem salvar o mundo, você deveria agradecer a esse homem. Stan Lee, roteirista e editor, é responsável pela existência dos heróis mais reais. Foi ele quem na década de 60, mostrou ao mundo personagens que erram, perdem e sofrem, características marcantes nos muitos heróis da Marvel.
Stanley Martin Lieber nasceu em Nova York, no ano de 1922, filho de um casal de romenos. Desde pequeno era uma criança com boas notas, com um fraco por livros de mistério. Quando tinha 16 para 17 anos, ele foi convidado para trabalhar para Martin Goodman na Timely Comics, uma pequena editora de HQ’s que viria a ser a Marvel Comics. Depois disso, ele se alistou no exercíto, e nos 3 anos que esteve fora, a editora foi comandada por Vicent Fago, que gostava de publicar quadrinhos de humor.
A primeira vez que o nome “Stan Lee” apareceu foi em uma revista do Capitão América, em maio de 1941. Nela, utilizou o pseudônimo que hoje é conhecido no mundo todo, devido ao fato de que queria seguir carreira literária. Ele foi responsável pela cena do escudo do Sentinela da Liberdade ricocheteando, marca registrada do personagem.
Em 1949, as revistas dos super-heróis perderam credibilidade e atravessaram um período negro. Foi nesse ano que o psiquiatra Fredric Wertham lançou o livro “Sedução de um inocente”, acusando os quadrinhos de serem responsáveis pela deliquencia juvenil, e falando de quão ruim era a influência destes sobre as crianças (esse livro é aquele que acusa o Batman e o Robin de serem gays e a Mulher Maravinha de ser bondage, e causou repercussão até hoje). Stan Lee acabou escrevendo histórias de mistério, infantis e western nessa época, sempre pensando abandonar essa vida logo.
Mesmo 22 anos depois, Stan Lee ainda acreditava que esse seria apenas um trabalho temporário, até novembro de 1961, quando Goodman sugeriu que ele criasse algo para bater a Liga da Justiça, que fazia sucesso nessa época. Assim surgia o Quarteto Fantástico, mas diferente de tudo que havia sido feito até então, eles teriam problemas pessoais, dúvidas e incertezas, como qualquer outro ser humano. Ele resolver criar então O Coisa, para um grande herói com uma terrível aparência. Reed e Sue seriam um jovem casal e Johnny seria a parte jovem, para se identificar com os mais novos. Eles, na verdade, tinham problemas muito maiores que apenas enfrentar as forças do mal. Esse novo conceito caiu nas graças do público, e Stan Lee pode nos trazer mais.
Com o sucesso do Coisa, o personagem favorito dos leitores (e meu também no Quarteto), ele resolveu criar outro herói monstruoso. Sucesso no mundo todo, famoso atualmente por vencer todos os maiores heróis da Marvel em combate em uma guerra que leva seu próprio nome, vinha ao mundo Hulk. Buscando inspiração no Frankenstein, ele uniu o médico e o monstro, criando Bruce Banner, um cientista que, exposto a raios gama, se tornou um monstro quando perde o controle. Uma curiosidade, Hulk deveria ser cinza, mas quando impresso, ele tinha várias tonalidades diferentes, e Lee acabou por optar pelo verde (uma das cores que apareceram nos erros da gráfica).
Então chegamos ao Homem-Aranha: um personagem que era para ser cancelado. A revista Amazing Fantasy estava para ser cancelada e a edição final seria a 15, de agosto de 1962. Ali estava a oportunidade de testar algo completamente novo: um adolescente que teria superpoderes, mas ainda precisava enfrentar os problemas da idade, e ainda por cima, perderia tanto quanto ganharia suas batalhas. Peter Parker iria levar seu lema (“com grandes poderes vem grandes responsabilidades”) ao máximo, e Stan acreditava que isso iria fazer sucesso. Ele só não sabia o quanto. Depois do lançamento, chegaram inúmeras cartas na editora pedindo mais. A fórmula do sucesso era errar.
Na Guerra do Vietnã, eles criaram um herói que tinha as origens nesse conflito. Querendo algo diferente das origens já existentes, ele criou um milionário que não queria nada com a vida até um sequestro. Como todo herói da Marvel, ele teria um defeito: vestir um colete magnético que afastava os estilhaços de uma bomba do seu coração. Estamos falando do Homem de Ferro. Nick Fury também teve sua origem na Guerra. Sargento Fury e seu pelotão, enfrentaram os nazistas na Europa nos anos 40.
Com o problema de novo das origens, ele fez heróis que já tinham poderes: os mutantes. Graças a evolução, eles eram o próximo passo da nossa espécie. A Garota Marvel (Jean Grey), Ciclope, Fera, Anjo e Homem de Gelo eram adolescentes com poderes, que lutam num mundo que não os compreendem. Mexendo com o preconceito, numa alusão aos negros, gays e todas as minorias, os X-men vieram ao mundo para nos dar um tapa na cara.
Todos os heróis que Stan Lee criou são destemidos, porém humanos. Se no começo sonhávamos em ser poderosos, com ele aprendemos a amar heróis que se aproximam muito mais de nós mesmos. Outras criações dele foram: Thor (trazendo um Deus para os mortais), Vingadores, Doutor Estranho (um herói místico), Demolidor (sem medo e sem visão), Ka-zar, Surfista Prateado (o herói mais triste dos quadrinhos), Pantera Negra (um herói negro), Capitão Marvel (da Marvel), Falcão, trouxe de volta Namor e Capitão América, e tantas outras ideias. Além disso, ele se mostrou um grande empreendedor e fez dos quadrinhos um pote no final do arco-íris.
Sempre que você gostar de arco com heróis falhando, mesmo da DC Comics, lembre-se que antes de Stan Lee (e não podemos esquecer de Jack Kirby, que ajudou a criar grande parte desses heróis, mesmo que não receba créditos por isso), os heróis eram apenas salvadores do dia. Ele foi resposável pelos problemas pessoais. A verdade é que ele fez das HQ’s o que elas são hoje.
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