domingo, 19 de junho de 2011

O Dualismo na Obra de Stevenson

Em 2006, O médico e o monstro (The strange case of dr. Jekyll and mr. Hyde), do escritor escocês Robert Louis Stevenson, completou 120 anos, sendo seguramente um dos livros mais adaptados para o teatro, cinema e televisão em todo o mundo. Segundo o próprio Stevenson, em entrevista publicada no The New York Herald de 8/09/1887, teria vindo-lhe em sonho o argumento para a história do médico que descobre, por meio da química, uma maneira de dividir suas porções boa e má, ou civilizada e selvagem.

O médico e o monstro é um precursor – senão fundador, ao lado de Frankenstein ou O Prometeu moderno (1818), de Mary Shelley – do gênero da ficção científica. Toda a linhagem dos "cientistas loucos" tem uma dívida com os doutores Frankenstein e Jekyll. A novela de Stevenson retoma o velho mito do duplo, resgatado pelo romantismo alemão na figura do Doppelgänger, tema já tratado em The private memoirs and confessions of a justified sinner (1824), do escocês James Hogg, ou A história maravilhosa de Peter Schlemihl (1813), de Adelbert von Chamisso, entre outros. À luz do pensamento freudiano, especialmente de O mal-estar na civilização (1930), não é difícil associar o dualismo que afeta o personagem Henry Jekyll à dicotomia que opõe civilização à instinto ou segurança à liberdade.

O tema do duplo esteve presente, também, em outros escritos de Stevenson, como o excelente conto "Markhein". Vale a pena notar que, no pequeno prédio do Writers Museum, em Edimburgo, o acervo sobre Stevenson também sugere algo da dualidade (ou multiplicidade) do próprio escritor. Nele são retratados o Stevenson da fria e escura capital escocesa, a "cidade dos mortos", o das viagens pela França, o da vida em família e o do convívio com a cultura samoana do pacífico sul. Enfim, fragmentos da vida de um artista do mundo.

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