Buenos Aires - Até este mês, para muita gente, a Guerra das Malvinas não passava de um capítulo de livros de História. Bastou os britânicos anunciarem que vão procurar petróleo no arquipélago, entretanto, para que a disputa pela soberania das ilhas voltasse à tona. A polêmica chamou a atenção de especialistas militares brasileiros, que analisaram a postura do Brasil no episódio, suas influências no panorama político-militar da região e até observaram que descobertas brasileiras no pré-sal podem ter influenciado o caso.
Quase ninguém acredita que o mal-estar diplomático atual termine em guerra, como em 1982. Entretanto, ele pode trazer consequências para a região. “A Argentina não tem condições de recuperar o território juridicamente nem militarmente. Mas não há dúvidas de que qualquer governo que consiga progressos na negociação sobre a soberania pode ganhar muitos pontos com a população”, diz o coronel do Exército Geraldo Cavagnari, fundador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp.Cavagnari acredita que as descobertas brasileiras de petróleo em grandes profundidades podem ter motivado os ingleses a buscarem o combustível nas Malvinas, onde, segundo a empresa britânica que fará a extração, acredita-se que possa existir até 60 bilhões de barris.
O coronel também crê num aumento da presença militar britânica perto do continente. “Isso é esperado, assim como a nossa Estratégia Nacional de Defesa prevê aumento do dispositivo de segurança em torno das reservas de petróleo.” Esta semana, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, qualificou como “ameaça real” o suposto envio de submarino por parte de Londres às Malvinas
BUSCA POR NOVAS FONTES
General da reserva e coordenador de estudos e pesquisas do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos, Durval Andrade Nery também crê que o pré-sal tenha influenciado os ingleses e observa que a questão energética torna a polêmica atual diferente da que causou a guerra em 1982. “As potências perderam petróleo em países como o Irã e agora buscam outras fontes”, lembra.
Nery elogia a postura do presidente Lula, que questionou frente a outros chefes de estado latinoamericanos a soberania britânica sobre as ilhas. A opinião é compartilhada pelo presidente do Clube Militar, general Gilberto Figueiredo: “É um caso que nos afeta, porque acontece no Mercosul, com outro país em desenvolvimento. Não temos a força militar das grandes potências, mas temos que buscar a união pelas vias diplomáticas”, diz.Por enquanto, nações se dizem dispostas ao diálogo
Apesar de garantir que seu país tem “todo o direito” de buscar petróleo e que “tomou medidas para proteger” os habitantes das ilhas, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, disse que tentará resolver a questão conversando. Os argentinos, por sua vez, garantem que nunca mais irão guerrear pelas Malvinas, mas anunciaram restrições ao tráfego de navios na região.
Para o professor Marcos Coimbra, que foi chefe da Divisão de Assuntos Econômicos da Escola Superior de Guerra por mais de uma década, uma solução sensata para o caso seria adotar acordo semelhante ao que a Grã-Bretanha fez com a China sobre Hong Kong. “A Inglaterra poderia admitir a soberania argentina, mas devolver o território só após um prazo”.
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