Morreu na madrugada desta quarta-feira, em sua residência, em Ipanema, Zona Sul do Rio, o escritor, jornalista e cartunista Millôr Fernandes, aos 88 anos. Millôr sofreu um acidente vascular cerebral e teve falência múltipla dos órgãos, de acordo com familiares. O velório será nesta quinta-feira, das 10h às 15h, no Memorial do Carmo, no Caju. O corpo será cremado em seguida.
Millôr foi também ilustrador, dramaturgo, fabulista, calígrafo e tradutor. E foi sempre ligado ao esporte. Ele se gabava de ter sido um dos idealizadores do frescobol, esporte muito praticado nas praias cariocas que não tem um vencedor - o objetivo é bater bola com seu companheiro pelo maior tempo possível. Millôr, inclusive, criou um painel em homenagem ao frescobol na Praça Sarah Kubitschek, em Copacabana.
"O Frescobol foi um esporte que cheguei a jogar bastante bem. Esporte maravilhoso, praticado à beira mar - os participantes quase nus - de tempo em tempo interrompido por um mergulho refrescante, o Frescobol é elegante e dinâmico o tempo todo, beneficiando-se ainda da sorte inaudita de nunca nenhum idiota ter tido a ideia de lhe traçar normas, aferir pontos - permanece até hoje uma atividade pura. Há competição, mas não formalizada, pontificada. Não há vencidos nem vencedores. Portanto sem possibilidade de violência. Segue meu princípio; "O importante é nem competir.", diferente do conceito hipócrita do Conde de Coubertin: "O importante é competir"", escreveu Millôr.
O escritor, mestre do gênero do humor, sempre mostrava ligação com o esporte. Torcedor do Fluminense, não foram poucas as frases que ficaram famosas sobre o futebol. Frasista assumido, ele participou também de transformações na imprensa brasileira no século XX e teve passagens por "O Cruzeiro", "O Pasquim" e "Jornal do Brasil". Ele deixa mulher e dois filhos.
Confira uma seleção de frases de Millôr sobre o esporte:
"E no oitavo dia Deus fez o Milagre Brasileiro: um país todo de jogadores e técnicos de futebol."
"O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia."
"Futebol não tem lógica. Mas, se a gente tivesse Garrincha, Pelé, Paulo César, Nilton Santos, Domingos da Guia e Rivellino de um lado só, a zebra ia ter que rebolar."
"Chute de longe é como tirar cara e coroa - dá sempre mais cara do que coroa."
"Há os que são Flamengo doente. Eu sou Fluminense saudável."
"Mal comparando, Platão era o Pelé da filosofia."
"Em 1978, lembram?, o Brasil, já na técnica da retranca, perdeu a copa invicto. Empatou todas. Inventamos uma coisa extraordinária: a Invictória."
"Ninguém joga futebol tão bem quanto o brasileiro. Isso porque o futebol e o Brasil são iguaizinhos; não têm lógica."
"Me autoproclamei campeão de frescobol do posto 9. Quando alguém jogava melhor, eu provava que ele era do posto 8. Assim vai a glória do mundo." (1971)
"O futebol se compõe de jogadores, juiz, bandeirinhas, bicheiros, cartolas - e cem mil não-combatentes."
"Todo homem tem o sagrado direito de torcer pelo Vasco na arquibancada do Flamengo."
"O futebol chega ao máximo do descrédito - é decidido nos pênaltis, com exigência de tempo ditada pela tevê. Vai acabar sendo disputado na porrinha."
"Natação e Automobilismo: Tenho absoluta incapacidade de admirar um homem apenas porque ele é melhor do que o outro um centésimo de segundo."
Fonte: Lancenet